O baile de máscaras do Dengue Dengue Dengue

Felipe Salmon e Rafael Pereira (ou vice-versa): a pressão da tormenta tropical que vem do Peru

Ninguém precisou pedir para Felipe Salmon e Rafael Pereira usarem máscaras. Os dois já fazem isso há muito tempo. Desde 2010, eles transformaram esse acessório numa das marcas registradas do grupo peruano Dengue Dengue Dengue, atração do festival (virtual) Amazônia Mapping, de arte e tecnologia. Criadas pelos dois – que são produtores, DJs e também artistas gráficos – as máscaras, de diversos padrões e cores, formam a identidade visual do projeto e casam, perfeitamente, com a sua originalíssima sonoridade, um batidão tribalista que percorre, eletricamente, cumbia, dub, dancehall, kuduro e ritmos afro-peruanos, acompanhado por linhas de baixo esmagadoras. Não por acaso, tropical bass ou tormenta tropical são expressões normalmente usadas para descrever o som do grupo.

– O Dengue Dengue Dengue sempre foi um projeto audio-visual – explica Salmon, falando de Berlim, onde a dupla mora durante uma parte do ano (a outra parte é passada em Lima). – Vivemos tão imersos nesse conceito que não vemos mais separações entre som e imagem. Quando lançamos um disco, fazemos um vídeo ou preparamos um show, tudo está sempre casado.

O mais recente lançamento do Dengue Dengue Dengue é “Fiebre”, lançado pelo selo mexicano NAAFI, com sete sombrias faixas instrumentais, sacudidas por complexas batidas, O EP pouco lembra as levadas mais claramente dançantes de seu álbum de estreia, “La alianza profana”, de 2012, o que mostra a inquietação e a evolução da dupla.

– Tentamos fazer uma pegada diferente a cada trabalho, sem largar mão da nossa sonoridade. E sempre tivemos um componente dark, que às vezes fica espalhado quando é um disco cheio. No caso de “Fiebre” que é um EP, um trabalho curto, fica mais fácil encaixar tudo – conta ele.

O EP novo vai ser a base do show no Amazônia Mapping, mais uma aventura do grupo pelo Brasil, que já tocou oficialmente em São Paulo (no Sesc-Pompeia, em 2015) e, esporadicamente, como DJs em outras cidades (Salmon tocou no Rio em 2016, em um evento da Red Bull Music Academy).

– Sabemos que existem inúmeras barreiras, além das geográficas, que separam o Peru do Brasil. Gostaríamos que essa troca fosse mais intensa, mas é sempre muito bom tocar num país com tanta tradição musical, ainda mais num evento com esse formato e conceito – afirma Salmon, que revela que há uma pimenta brasileira no cardápio musical do Dengue Dengue Dengue. – Gostamos muito de baile funk e já usamos alguns elementos em nosso trabalho.

Ironicamente, para um grupo que tem o nome de um vírus (a dupla costuma dizer que dengue é uma expressão popular no Peru, que significa a ansiedade antes de uma festa ou evento), a pandemia trouxe uma nova forma de trabalhar e de pensar a vida

– Acho que corríamos demais – diz ele. – Recolhidos, ganhamos mais tempo para criar coisas que não seriam possíveis se estivéssemos em um ritmo de shows e viagens. É demorado recuperar a concentração depois de uma turnê. Então, quando tudo isso acabar, certamente vamos fazer as coisas de outra forma.

Foto de divulgação