Poesia dub de Roger Robinson é premiada

O cantor e letrista do grupo King Midas Sound ganhou o TS Eliot de 2019 pela coletânea “A portable paradise”

O trabalho de Bob Dylan, Kendrick Lamar e Roger Robinson (do King Midas Sound) tem muita coisa escrita. E isso vale ouro literário. Depois de Dylan ganhar o Prêmio Nobel de 2016 pelo conjunto da obra e Lamar ser agraciado com o Prêmio Pulitzer de 2018 pelo álbum “DAMN”, Robinson levou, nesta semana, o TS Eliot de 2019, a principal premiação de poesia do Reino Unido, pelo livro “A portable paradise” (Pee Pal Press , inédito no Brasil). A obra – a segunda coleção de poemas lançada por Robinson – fala de racismo, violência e o amargo-doce da vida de imigrantes na Inglaterra, onde o autor nasceu, de uma família de Trinidad e Tobago.

Bem menos conhecido, mas não menos qualificado do que os dois primeiros, Robinson faz poesia dub, na mesma linha de luminares como Linton Kwesi Johnson e Mutabaruka, que moldaram, nos anos 70, esse híbrido de versos politizados e bases de reggae profundo. É nesse tapete mágico que Robinson voa em discos solo como “Dog heart city” (2017) e “Dis side ah town” (2015).

Considerado um renovador do estilo, Robinson se expressa também como cantor e compositor do King Midas Sound, ao lado do produtor Kevin Martin (The Bug, Zonal). O mais recente álbum do grupo – que tocou no Festival Novas Frequências de 2015, no Rio – é o gélido “Solitude”, uma sombria e às vezes perturbadora reflexão sobre a separação e a solidão (“Com quem ela está dormindo agora?/E o que ela faz com ele?/Nunca mais a encontrei nos shows”, diz a letra de “Who”, que parece a versão dark de “Every breath you take”, do The Police). O disco foi lançado – possivelmente como um anti-marketing – no Dia dos Namorados de 2019, com um montão de amontoado de coisa escrita e declamada de presente (macabro) para os pombinhos. Não deu pra suavizar isso aí.

Foto de divulgação