Resenhas miúdas: Here Lies Man, Okzharp & Manthe Ribane e Wooden Shjips

Marcos Garcia (de gorro) e o Here Lies Man: padrinhos do arrepiante casamento entre Fela Kuti e Black Sabbath
“You will know nothing” – Here Lies Man
Sem essa de cada um no seu quadrado. No seu segundo álbum, o grupo de LA Here Lies Man – liderado pelo cantor e guitarrista Marcos Garcia, do projeto Chico Mann e do grupo Antibalas – segue assustando puristas (e, indiretamente, racistas) com seus arrepiantes cruzamentos de cores musicais, em particular o casamento entre afrobeat e metal. Como em seu elogiado début, homônimo, lançado em 2017, o grupo captura a essência dos dois estilos – o ritmo, através da percussão de um e dos riffs de guitarra do outro – e gera uma criatura única, lisérgica, poderosa e multicolorida. Não por acaso, o Here Lies Man tem como base a guitarra de Garcia, filho de imigrantes mexicanos, e a bateria de Geoff Mann, filho do saudoso saxofonista/flautista Herbie Mann, que sempre misturou jazz com funk, soul e grooves latinos. Fela Kuti e Black Sabbath agora fazem parte dessa família. E que ninguém se atreva a separá-los na fronteira.
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Os sul-africanos Okzharp e Manthe Ribane: artes visuais, moda, grime e synthpop no caminho do seu refinado álbum de estreia
“Closer apart” – Okzharp & Manthe Ribane
Okzharp e Manthe Ribane estão juntos, mas quase nunca se pegam. Parceiros musicais, o produtor e a modelo/dançarina/cantora são da África do Sul, mas vivem em capitais distintas, ele em Londres ela em Joanesburgo. Mesmo assim, conseguiram espaços em suas agendas para gravar esse álbum. “Closer apart” foi feito em encontros esporádicos entre os dois, em Paris, em Viena e em aeroportos pela Europa, sempre registrados pelo fotógrafo Chris Saunders, parceiro não oficial do projeto. A ligação dos dois com artes visuais e moda combina com a levada gélida e elegante do disco, entre o grime e o synthpop, como bem mostra o refinado vídeo de apresentação, assinado por Saunders. “Closer apart” é música prêt-à-porter. Experimente.
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Wooden Shjips (não tente falar esse nome alcoolizado): paz, amor e guitarras como reação psicodélica aos pavores da era Trump
“V” – Wooden Shjips
Como uma reação epidérmica à picada do inseto Donald Trump na democracia mundial, os integrantes do Wooden Shjips levantaram os dedos em sinal de paz e amor – e não o dedo médio, como seria de se esperar – e os colocaram na capa do seu mais recente álbum. Classificado pelo cantor e guitarrista Ripley Johnson como um bálsamo contra a distopia trumpiana, “V” faz brilhar ainda mais as cores psicodélicas sempre presentes no som do grupo de São Francisco (radicado em Portland). As sete faixas do álbum – que perfumam o ar como um incenso de patchouli – ondulam ao som de guitarras cheias de fuzz e órgãos de tons sessentistas. Escute nos fones, de olhos fechados, e sinta-se num drone sobrevoando a Golden Gate Bridge. Aproveite para saudar a comunidade mexicana lá em baixo.