A Salvador pixelada do Soft Porn, Mapa e Aurata

Novíssimos baianos: Lucas Spanholi (Soft Porn) , Pedro Barbosa, Matheus Patriarcha (Mapa) e Ramon Gonçalves (Aurata)

Nem adianta procurar o(a) baterista. A turnê “Invisible drums” chega ao Rio hoje – depois de passar por Vitória, Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo, entre outras cidades – com os integrantes dos grupos Mapa (Matheus Patriarcha e Pedro Oliveira Barbosa), Soft Porn (Lucas Spanholi) e Aurata (Ramon Gonçalves), todos eles de Salvador, unindo vozes, guitarras e sintetizadores no palco da Audio Rebel, a partir de 19h, para fazer um show no formato três em um, menos um. Eles vão cruzar suas músicas próprias – que têm mais texturas do que balanços, mais implosões do que explosões – com percussões sampleadas marcando o ritmo e os passos desses novíssimos baianos. Mais do que uma questão de logística, a ausência de baquetas é um conceito que une os três projetos, que representam uma movimentação fértil, mas ainda subterrânea, na capital da Bahia e arredores. A noite é completada por um show do grupo carioca Arte Novel.

– O conceito do Invisible Drums surgiu bem naturalmente – explica Spanholi, do Soft Porn, fã de John Cage e New Order. – Somos amigos de longa data e apesar dos projetos soarem bem diferentes, essa coisa de samplear bateria sempre foi um ponto comum e fez com que a gente tocasse juntos e tivesse uma conexão mais forte.

Surgidos entre 2013 e 2015, Mapa, Soft Porn e Aurata descendem, de certa forma, de grupos locais de maior projeção, como Maglore e Vivendo do Ócio, ambos radicados em São Paulo. Seu crescimento, porém, foi alimentado por uma voltagem própria – entre as guitarras e os samplers, entre a arte visual e a poesia – num ambiente de “faça você mesmo”, tocado por forças independentes, como a NHL, misto de produtora, selo digital e fanzine, responsável pela turnê e por festivais e eventos variados em Salvador.

– Movimentamos a cena com shows em vários formatos possíveis e até impossíveis – conta Patriarcha, do Mapa e um dos fundadores da NHL, fissurado em Caetano Veloso, Badbadnotgood, Unknown Mortal Orchestra e Tame Impala. – Acredito que essas trocas de aprendizados e contatos são super importantes. A turnê, inclusive, tem sido demais, com todos nós tendo que conhecer e lidar com inúmeras situações surpreendentes o tempo inteiro.

Esse agito e o papel de Salvador como o seu epicentro são definidos por Ramon Gonçalves, do Aurata.

– A necessidade e a vontade de produzir levou uma série de artistas de Salvador, como nós, a produzirem sozinhos. E as possibilidades de produção eletrônica e lo-fi tomaram conta das nossas cabeças e seguimos trabalhando assim. – diz ele, que curte Philip Glass, Ryuichi Sakamoto, Arto Lindsay, post rock e “tudo que é lo-fi”. – E Salvador, ao menos no meu caso, é uma influência enorme, com as ruas, a chuva, o mar, o calor etc. As dificuldades proporcionadas pelo tipo de musica que produzimos ali acabam fortalecendo, sabe? Como falei, é uma necessidade e os muros foram feitos para serem pulados.

Foto de divulgação/Lincoln Fonseca