‘Diggin’ in the carts’ traz a memória das trilhas de videogames do Japão

Caçador do chip perdido, o pesquisador neozelandês (radicado em Tóquio) Nick Dwyer entra na segunda fase de sua busca pelos tesouros da música de videogames do Japão com a compilação “Diggin’in the carts”, lançada hoje pela Hyperdub, em formato digital (o vinil sai em fevereiro de 2018).

A primeira fase foi o documentário de mesmo nome, dirigido por ele e produzido pela Red Bull Music Academy em 2014 por conta do encontro anual que aconteceu na capital japonesa (contei a história na época aqui). Dividido em seis episódios, que dá pra ver aqui, o filme celebrou o trabalho dos pioneiros compositores de trilhas de games no Japão, como Hirozuku Tanaka (“Donkey kong”), Yoko Shimomura (“Street fighters 2”) e Yuzo Koshiro (“Streets of rage”), ativos durante a época de ouro da indústria, entre a segunda metade dos anos 80 e o começo dos 90.

“Diggin’in the carts” mostrou também como o som desses honoráveis mestres – feito com incrível criatividade em placas de som primárias – influenciou, sem que muitos deles soubessem, o trabalho de Flying Lotus, Thundercat, Ikonika, Zomby, J-Rocc e Fatima Al-Qadiri, entre outros. Esses bleeps e bloops fertilizaram também gêneros como o grime e o dubstep, sem contar a assumida chipmusic (ou chiptune).

Para o álbum, segunda fase dessa aventura, que tem o subtítulo “A collection of pioneering video game music from Japan”, Dwyer juntou forças com produtor, DJ e acadêmico Kode9 (Steve Goodman), dono da Hyperdub. A combinação com a gravadora não podia ser mais apropriada, já que Kode9 também é um fissurado em sons de 8 e 16-bits e a Hyperdub é o celeiro de boa parte das experimentações atuais das texturas daquela época.

Com mais de 30 faixas, boa parte sem ultrapassar os dois minutos de duração, “Diggin’in the carts” – que tem capa assinada pelo craque Koji Morimoto (“Animatrix”) – avança em relação ao doc, revelando nomes ainda menos conhecidos, e comprova a atualidade dessa sonoridade. Não tem jogo ruim em músicas como “Mister diviner”, de Soshi Hosoi, “BGM 3”, do Konami Club (um time composto quase todo por mulheres), e “Big mode”, de Norio Nakagata.

O álbum coincide com a segunda temporada do documentário, novamente conduzida por Dwyer, agora como uma série de programas para a Red Bull Radio (iniciada no final de outubro, com novos episódios toda quarta). Coincide também com uma turnê de festas promocionais, com Kode9 e convidados, que já passou por Los Angeles e vai chegar em Londres no fim deste mês. Hoje é a vez de Tóquio. E ficamos por aqui, combatendo a inveja como um space invader.