Lê Almeida leva o conceito de lado B ao extremo e transforma Oruã em Ãuro

Tô vendo tudo invertido: Êl Adiemla (ao centro) e o grupo Ãuro que está lançando o álbum “Açnerc mes/Oãçnêb mes”

Para todos os momentos da vida, dizem, existe uma trilha sonora. Se for assim mesmo, chegou um som de fundo adequado para um país de muitas distorções, de valores cada vez mais invertidos e de muito nonsense. É Ãuro, extremo lado B de Oruã, novo projeto encabeçado por Lê Almeida, cantor, guitarrista, artista visual, dono do selo Transfusão Noise Records e cabeça premiada do indie nacional. Gravado em meio a sessões de improviso, o álbum de estreia do grupo – formado também por João Luiz (baixo) e Daniel Duarte (bateria) – veio ao mundo em agosto e foi batizado como “Sem benção/sem crença”. Suas 13 músicas trazem Lê surfando nas experimentações (incluindo gravações em fita cassete) e na psicodelia já presentes em seu trabalho anterior, “Mantra happening”, e cantando letras sobre ” intolerância, abuso de poder, amizade e superação”, como disse em entrevista ao “Monkeybuzz”.

Só que a onda foi tão forte – ou tão boa – que rendeu um inusitado caldo: um disco completamente em sentido contrário (ou sem sentido), já disponível no Spotify. Do nome do grupo, passando pelo título do álbum (“Açnerc mes/Oãçnêb mes”), pelo nome das faixas, pelas músicas e até pela arte da capa, tudo em Ãuro está invertido.

– Muitas coisas que eu gravo, acabo colocando detalhes ou pequenos trechos ao contrário – explica Lê, perdão, Êl Adiemla. – No disco do Oruã, quis fazer uma versão maior disso, como experiência de novas ideias e também pela curtição mesmo. E o fato de termos gravado o disco em fita facilitou esse processo. Além da mesa de som, usei um sistema de gravador em cassete no qual eu gravava trechos de solos de guitarra e voz e criava uma camada extra, que passei a chamar de overtape, pois faz a mesma função de um overdub, só que direto na fita.

Trocar as bolas não chega a ser novidade no mundo das guitarras. Do Led Zeppelin aos Beatles, passando por Eagles e Soundgarden, há diversas lendas sobre músicas que, quando tocadas ao contrário, trazem mensagens escondidas. Adiemla não esconde que isso inspirou o negativo de Oruã.

– Conheço algumas dessas histórias. Eu mesmo achava que algumas coisas do My Bloody Valentine estavam ao contrário e não eram fruto de tantos efeitos – diz ele. – E com certeza existem uns momentos desvendáveis no disco do Ãuro.

“Arte” a partir de foto de divulgação/Shay Reis