Resenhas miúdas: A/T/O/S, Motion Graphics, Bremer/McCoy e Tornado Wallace
“Outboxed” – A/T/O/S
Mais do que a caixa citada pelo título, a dupla belga A/T/O/S (formada pela vocalista Amos e pelo produtor Truenoys) parece ter saído de um luxuoso caixão aveludado com o seu segundo álbum, “Outboxed”. Como se fosse a trilha sonora de um sensual e assombroso filme de vampiros, ele traz nove faixas que transitam com elegância entre as sombras. Ouvir “Trees” e “Liquid gold dreams”, com toda sua luxúria r&b, é como sonhar acordado com os personagens de Tilda Swindon e Tom Hiddleston em “Amantes eternos”, ambos dançando, lentamente, com os esqueletos do dubstep.
Cotação: 4 crucifixos
“Motion Graphics” – Motion Graphics
Grosso modo, ruído branco (“white noise”) é aquele que traz várias frequências num mesmo sinal repetido. Barulhos de máquinas de lavar ou de cachoeiras, por exemplo, são considerados ruído branco e são muito usados para fazer bebês e insones dormirem. Seguindo essa linha, a música do projeto Motion Graphics, do produtor Joe Williams, pode ser tomada como ruído multicolorido, que desperta e aguça a imaginação. Tirando licões da Yellow Magic Orchestra e de John Cage – o pop sintetizado do primeiro, o experimentalismo do segundo – ele cria, em seu homônimo álbum de estreia, uma fascinante e intrincada tapeçaria eletrônica, incluindo sons da vida hiperconectada, como ringtones e alertas de computadores. O resultado é uma versão atualíssima da música ambiente, na qual as máquinas estão no comando, fazendo barulhinhos bons.
Cotação: cinco robôs
“Forsvinder” – Bremer/McCoy
Já comentada e entrevistada aqui nesse escritório, a preciosa dupla dinamarquesa Bremer/McCoy segue navegando em águas plácidas com seu terceiro álbum, “Forsvinder”. Sem grande guinadas em sua rota, os dois jovens prodígios, amigos de infância – Bremer é o baixista, McCoy, o pianista -, surgem ainda mais afinados com seu jazz-dub meditativo e calmante. Além de 11 músicas inéditas, o disco traz uma elegante versão de “She´s alive”, do Outkast. Posologia: duas audições ao dia, em caso de estresse.
Cotação: quatro velas e meia.
“Lonely planet” – Tornado Wallace
Podem pedir exame antidoping, mas toda vez que escuto “Lonely planet” tenho a sensação de estar nadando dentro de um grande aquário cheio de peixes coloridos. Culpa de Tornado Wallace. Com nome de personagem de filme de caubói, o produtor australiano, radicado em Berlim, faz o que na Europa costuma se chamar de som “baleárico”, criações ensolaradas, pulsantes (mas não a ponto de virar pista), boas para ouvir naquele seu iate antes de seguir para a noite de Ibiza. Do refrescante conteúdo de “Lonely planet”, repleto de barulhos de gaivotas e sintetizadores new-wave, caem muito bem “Today”, que parece uma nova “When doves cry”, de Prince, e “Voices”, que lembra as trilhas oitentistas de Harold Faltermeyer e Jan Hammer.
Cotação: três golfinhos e meio.
(Foto de divulgação)