Os 100 primeiros dias de ‘Kuso’, a estreia de Flying Lotus como diretor

Bú! Cena de ‘Kuso”, que estreou no mesmo dia em que Donald Trump tomou posse dos EUA, causando reações extremas
Foram duas entradas em cena de assustar. Primeiro longa-metragem de Flying Lotus, “Kuso” teve pré-estreia no Festival de Sundance 2017 no último dia 20 de janeiro, mesma data em que o sinistro Donald Trump tomou posse (da presidência) dos EUA. E é tentador ver um simbolismo na coincidência de datas. Palavra japonesa equivalente ao “shit” em inglês e à “merda” em português, “Kuso”, que inclui cenas de animação e com marionetes, parece justificar o título ao longo de seus cento e tantos minutos de duração. É só ver o trailer, que faz pensar que derreteram Alejandro Jodorowski e Dario Argento numa sopa ácida e jogaram tudo no canal Adult Swim.
Grotesco, surreal e provocativo, com cenas bizarras, que incluem o esfaqueamento de um pênis, o sexo com uma boneca de plástico e uma barata explodindo na região íntima de um personagem (o médico vivido por ninguém menos do que George Clinton), o filme não passou em branco pelo festival. Diversos espectadores saíram no meio da sessão para a imprensa. “Gente, eu tentei avisar”, retrucou, sem jeito, Flying Lotus, que, assim como Trump, questionou os números da inauguração via Twitter. “Não foram nem vinte pessoas que saíram entre as 400 presentes”, disse ele, que recentemente comentou sobre os efeitos do LSD no cérebro (“Nunca mais fui o mesmo”, brincou).
Descrito pelo site “The Verge” como o “filme mais grosseiro de todos os tempos, perfeito para um mundo pegando fogo”, “Kuso” aborda os sobreviventes – mutantes, ao que parece – de uma Los Angeles pós-apocaliptica, devastada por um terremoto, em uma serie de histórias conectadas.
Em entrevista ao site da “Vice”, Flylo disse a inspiração para fazer filmes surgiu a partir do divertido gif criado após uma apresentação, como DJ, ao lado de Thom Yorke (Radiohead) na renomada festa Low End Theory, em Los Angeles, em 2011. “Fiquei com aquilo na cabeça um dia inteiro”, comentou ele, que estudou na Los Angeles Film School e já assinou trilhas para diversos curtas e longas (a mais recente para o documentário “Love true”, de 2016).
In October of last year there was this pretty awesome gif going around of me and Thom Yorke djing. pic.twitter.com/l09Y48Gvhq
— FLYLO (@flyinglotus) July 6, 2016
As primeiras (esperadas) reações ao filme – que ainda não tem data para estreia oficial, mas bem poderia parar no próximo Festival do Rio – fizeram Flylo afirmar, que pensava em distribuí-lo de forma independente, excursionando junto com “Kuso”. Isso seria uma ótima ideia se a turma que participou da trilha sonora – Thundercat, Kamasi Washington, Aphex Twin, Miguel Atwood Ferguson e Angel Deradoorian, entre outros -viesse junto. Um show de horrores, não seria jamais. Até porque a competição com a Casa Branca está impossível.
(Foto de divulgação)