Roundhouse vem da Inglaterra para intercâmbio reggae no Circo Voador

Fachada do Roundhouse, em Londres: 50 anos de atividade cultural e parceria inédita com Circo Voador

Não vai ter Jack Black, nem guitarras distorcidas na sala de aula. Em vez de escola do rock, o Circo Voador vira, de hoje (sexta) até domingo, de 10h às 18h, um centro educacional de reggae, com especialização na cultura dos soundsystems. Realizado em parceria com o Roundhouse – um dos espaços mais bacanas e ativos de Londres – e com o selo B-Mundo, o Roundhouse Soundsystem Collective UK/BR vai reunir dez novos artistas locais (DJs, MCs e produtores) para um intensivão, teórico e prático, sobre o tema. Ao final, dois deles serão selecionados para se apresentar no Rising Festival, em fevereiro do ano que vem, na capital inglesa.

– Estamos montando um soundsystem para tocar no nosso festival de 2017 e pensamos numa colaboração internacional. Chegamos ao Circo Voador porque é um espaço que faz um belo trabalho de formação e tem um ethos semelhante ao do Roundhouse – explica Lucy Scott, produtora musical do local. – Esperamos que seja o início de uma bela parceria.

Localizado numa construção circular do século XIX (que servia como depósito e área de manutenção de trens), o Roundhouse sobreviveu aos bombardeios alemães na II Guerra Mundial e virou casa de espetáculos em 1966 (com um show de um certo Pink Floyd). Desde então, atravessou diversas eras (hippie, punk, rave etc), mantendo-se como uma das jóias do circuito cultural londrino. Em seu palco, Allen Ginsberg fez psicodélicas performances, o The Doors se apresentou pela única vez na cidade, os Ramones tocaram pela primeira vez no Reino Unido e Prince e Frank Zappa brilharam, entre muitos outros, sem mencionar montes de peças, musicais, mostras e exibições alternativas.

– É muita sorte estarmos num local incrível, com tanta história – diz Lucy sobre o Roundhouse, que está celebrando 50 bem vividos anos.

Desde 2000, o local virou também uma ONG, passando a fazer trabalhos de formação cultural com jovens entre 11 e 25 anos, em áreas como teatro, cinema, rádio, poesia e, claro, música. Reformado em 2006, sua lista de apoiadores inclui gente finíssima como Ray Davies (The Kinks), Terry Gilliam, Nick Mason (Pink Floyd) e Ewan McGregor.

– De fato, temos um formato único no Reino Unido. Mas as doações que recebemos não chegam a 10% dos nossos rendimentos. O resto é obtido através de shows e eventos corporativos, além do lucros de bares e do restaurante – explica ela. – Tudo isso acaba sendo revertido para os programas de formação.

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Circo Voador: trajetória atraiu o interesse do Roundhouse para workshop sobre cultura soundsystem

No Rio, o papel de professor (e instigador) está a cargo de Spider J, veterano músico, DJ e produtor. Ele vai preparar o grupo para uma apresentação final, aberta ao público, no próximo domingo, às 18h, quando vão ser anunciados os dois selecionados.

– Comecei a tocar e produzir em soundsystems na Inglaterra. Eu e meu irmão tínhamos um, chamado Sir Byer Sound e tocamos diversas vezes com Jah Shaka. Além disso, visitei a Jamaica nos anos 70, convidado por Bob Marley – destaca Spider J., que já trabalhou com Lee Perry e Mad Professor, e é fã de Gilberto Gil – Meu trabalho aqui no Rio vai ser passar um pouco da minha experiência com o reggae e buscar extrair o melhor de cada selecionado. Também espero aprender bastante com eles.

Fotos de divulgação (Roundhouse, no alto) e de Felipe Diniz (Circo Voador)