O folk denso de Ryley Walker

Ryley Walker está soprando no vento. Aos 26 anos, o cantor, compositor e violonista norte-americano chega ao terceiro disco, “Golden sings that have been sung”, deixando voar para longe dos ombros o peso de gigantes como Van Morrison, Tim Buckey e Bob Dylan (que, aos 21, compõs “Blowin´in the wind”). Eram essas influências que traziam insustentáveis comparações ao seu trabalho anterior, o elogiado “Primrose green”, lançado em 2015, com uma palavra chave acoplada: folk.
– Não sou o trovador que imaginava ser, ou ao menos o que sonhava ser. Despertei desse sonho – admite ele, num papo por telefone. – Quero ser apenas quem eu sou, um cara simples, que gosta de festa.
Nem tão simples assim. “Golden sings that have been sung” tem a mesma densidade de “Primrose green”, novamente unindo, com classe e sutileza, elementos de rock e jazz ao estilo plácido de Walker. Mas há, claro, diferenças. No trabalho anterior – o debut foi em 2014, com “All kinds of you’ -, ele emulava uma sonoridade setentista, capaz de lembrar tanto o supergrupo Crosby, Stills, Nash & Young como o cultuado John Martyn. O envolvente clima de jam vinha por conta da participação de renomados músicos de estúdio de Chicago – cidade onde cresceu e vive até hoje – como o cellista Fred Lonberg-Holm e o vibrafonista Jason Adasiewicz
– Chicago é uma grande inspiração e uma natural referência para meu trabalho – conta Walker, que tem em Robert Plant um fã declarado. – Passei boa parte da adolescência em bares vendo shows de músicos e grupos extraordinários que vivem aqui, como Gastr del So e Tortoise, além dos próprios Fred Lonberg-Holm e Jason Adasiewicz.
De fato, a rica atmosfera musical da cidade se impregna novamente nas criações de Walker. Após uma longa turnê de divulgação de “Primrose green”, ele voltou a Chicago, não em busca de férias, mas de um solo conhecido para construir o material que geraria “Golden sings that have been sung”. Para isso, fez contato com um desses músicos que vivia acompanhando: Leroy Bach, que fez parte do Wilco entre 1997 e 2004. Acabou convencendo Bach a produzir o disco, mais centrado e menos solto que o anterior, sem perder o suave aroma psicodélico jamais. Nas ruas da cidade, gravou também o vídeo de “The roundabout”, durante os festejos do dia da independência dos EUA.
– Foi a primeira vez que trabalhei com um produtor e foi um aprendizado diário. Graças a Bach, consegui trabalhar mais em torno de canções do que de climas. Trabalho na base da tentativa e erro. É assim que espero continuar evoluindo – diz Walker, que tocou no Brasil pela primeira vez, em São Paulo, em julho, num evento promovido pelo uísque Jim Beam. – Gosto de Caetano Veloso e Tom Zé. Espero voltar outras vezes.
(Foto de divulgação)