Pat Thomas, o masterchef do temperado som highlife, está na rota do Brasil
Do grande caldeirão musical africano, uma das receitas mais especiais é a do highlife. Com sua doce mistura de balanço percussivo e metais em brasa, o som pop de Gana, que teve seu auge nos anos 60, vem alimentando mentes e cinturas há várias temporadas. E não há sinais de escassez, como prova o álbum “Pat Thomas & Kwashibu Area Band”, que vai poder ser saboreado no Brasil durante as apresentações do cantor no festival MIMO, em outubro e novembro, no Rio, Paraty, Olinda, Tiradentes e Ouro Preto.
– Acho que o highlife continua atraindo atenções porque é um ritmo sensorial, que nunca se deixou levar pelas regras do mercado – conta Thomas, masterchef do estilo, falando de Berlim, durante a excursão europeia de divulgação do álbum.
Lançado ano passado pela gravadora inglesa Strut Records, “Pat Thomas & Kwashibu Area Band” marca o retorno da chamada “voz de ouro africana” aos estúdios após 25 anos de ausência. O silêncio não impediu que o trabalho de Thomas fosse lembrado em várias coletâneas, sempre associado ao apogeu do highlife em Gana, na década de 60, em meio à onda de otimismo resultante da independência de diversos países no continente.
– Foi realmente um período muito fértil, com muitos artistas surgindo em meio a uma efervescente cena musical, com muitas casas noturnas abertas para as novidades – diz ele, lembrando, porém, da onda ruim que veio depois, quando um golpe militar violentou a então jovem democracia de Gana. – O golpe mudou bruscamente essa cena, impondo a censura e levando ao fechamento de muitos clubes. Foi, claramente, o outro lado da moeda. Tentaram calar o highlife, mas isso é impossível.
Durante esses anos de chumbo – que se estenderam até o começo dos anos 90, quando Gana voltou à democracia – Thomas foi um dos muitos artistas do país que buscaram refúgio no exterior. Após passar por EUA, Inglaterra e Canadá, ele se fixou na Alemanha, passando a integrar o movimento oitentista chamado “burger highlife”, de sons produzidos em Berlin, que adicionava condimentos disco e funk à receita original do gênero.
– O burger highlife foi uma espécie de alimento para nossas almas exiladas. Considere assim. – resume.
Para gravar “Pat Thomas & Kwashibu Area Band”, Thomas retornou à Gana, formando uma banda com novos talentos locais, incluindo sua própria filha, a também cantora Nanaaya, e tendo à frente o músico e produtor Kwame Yeboah. O disco – que traz três regravações do período burger highlife: “Gyae su’”, “Odoo Adada” e “Mewo Akoma”, além de temas inéditos – tem também as participações de veteranos, como seus antigos companheiros o guitarrista Ebo Taylor, peça chave do highlife, e o baterista Tony Allen, ícone do afrobeat nigeriano.
– Foi incrível ver como nós três ainda falamos a mesma linguagem musical. Tocamos como se nunca tivéssemos nos separados – garante.
Em Gana, Thomas deparou-se com um rebento do highlife, o chamado hiplife, misturado com hip-hop e dancehall.
– Os garotos sabem que sem highlife não existiria hiplife. Vejo um olhar respeitoso para o passado e prevejo muitas interações entre as gerações antigas e atuais.
No Brasil, onde vai se apresentar pela primeira vez, Thomas deve tocar, como é de se esperar, seu novo álbum na íntegra.
– Temos no disco canções de oito minutos que podem se estender por dez, quinze. Se deixarem, tocamos a noite inteira – diverte-se, antecipando o que gostaria de encontrar nas ruas do país. – Gostaria de ouvir samba instrumental. Acho o ritmo tão hipnotizante quanto o highlife.
(Foto de divulgação)