'Montreux é o vinil dos festivais', diz diretor

‘Montreux é o vinil dos festivais’, diz diretor

Não foi por acaso que o Deep Purple e o filho de Frank Zappa (Dweezil Zappa) foram escolhidos destaques da noite de encerramento dos 50 anos do renomado festival de jazz de Montreux, que acontece hoje, na Suíça. Para muita gente, foi graças ao veterano grupo de hard rock e seu imortal hit “Smoke on the water”, de 1972, que a pequena e bela cidade, cercada pelos Alpes, entrou no radar musical. Na letra, é lembrada a confusa gravação do álbum “Machine head”, prevista para acontecer num estúdio móvel dos Rolling Stones, mas que teve que ser improvisada nos corredores de um hotel por causa de um incêndio que destruiu o cassino da cidade, onde estava estacionado o estúdio e onde acontecia uma apresentação de Zappa. Além de lembrar do sinistro, a letra homenageia Claude Nobs – criador do festival – por sua ajuda naquele esquentado momento.

– Essa, realmente, é uma das principais histórias em torno de Nobs e de Montreux – lembra Mathieu Jaton, que era assistente de Nobs e se tornou o diretor do evento após a morte deste, em 2013. – Passei quase vinte anos trabalhando com Claude Nobs e poucas vezes vi alguém combinar tão bem a paixão pela música com a dedicação em organizar uma festa para celebrá-la.

Surgido em 1967, o festival de Montreux sempre teve o jazz como ponto de partida. No seu palco, tocaram gigantes como Miles Davis, Nina Simone, Ella Fitzgerald e Dizzy Gillespie. Do fim dos anos 70 em diante, porém, seu raio de ação foi sendo progressivamente ampliado, abrindo espaços para rock, hip-hop, reggae e os mais variados sons afro e eletrônicos, além, claro, para a música brasileira, celebrada este ano com uma noite especial (não muito bem recebida, segundo Antonio Carlos Miguel, talvez por sua escalação pouco ousada), com Martinho da Vila, João Bosco, Ivan Lins, Hamilton de Holanda e Vanessa da Matta.

– De Hermeto Paschoal à Cor do Som, de Elis Regina a Pepeu Gomes, o Brasil sempre esteve muito bem representado em Montreux – destaca ele, que anunciou, durante uma visita ao Rio no mês passado, uma edição do festival na cidade, em 2017. – Só faltam alguns detalhes para podermos divulgar o local e os artistas escolhidos, brasileiros e internacionais.

Essa variedade que contaminou Montreux se refletiu na edição deste ano, que teve Lana Del Rey, Herbie Hancock, Sigur Ros, Mogwai, Santana, PJ Harvey, Patti Smith, Muse, Al Jarreau, Van Morrison, Beirut, Mac Demarco, Four Tet, Jean-Michel Jarre e até Slayer. Na noite de encerramento, além de Dweezil Zappa e do Deep Purple, vão se apresentar o grupo cubano de jazz Harold López-Nussa e o supremo DJ e produtor francês Laurent Garnier.

– Acredito que estamos evoluindo junto com a música. Não somos tão arrojados como o Lollapalooza ou Coachella, nem é esse o nosso perfil – garante Jaton. – Eu diria que Montreux é o vinil dos festivais. Antigo, mas ainda relevante.