A alma sombria de Christian D' Or

A alma sombria de Christian D’ Or

Como se vê pela foto acima, Christian D’Or é bigode grosso. A patente pode ficar alta a partir de agora, com o lançamento de “Tough soul”, o primeiro trabalho desse DJ, cantor e compositor dinamarquês. As cinco faixas do EP – desde já, um dos melhores do ano para este pequeno reino digital – são um bem amarrado enredo com eletrônica oitentista, soul de cabaré e disco de tons sombrios. Conduzindo tudo, uma voz imponente, de tons graves, que lembra a porção crooner de David Bowie.

– Bowie sempre foi o cara para mim. Passei a adolescência ouvindo “Ziggy Stardust” e “Space oddity”. Era o que cantava nas aulas de música da escola – confirma ele. – O alcance da voz e a entonação soul, tudo isso foi uma grande inspiração para mim.

Figura – ou melhor, figuraça – da noite de Copenhague, D’Or fez seu nome, como DJ, ao longo de mais de uma década, inflamando pistas com seleção afiada e técnica apurada. Em 2013, usando o codinome Disco Dick, lançou seu primeiro single, o divertido “Hot pants”.

– Tive algumas bandas no final dos anos 1990. Depois, comecei a discotecar em festas de hip-hop, entre scratches e batidas. Aos poucos, fui conhecendo mais coisas de jazz, disco e eletrônica. E comecei a comprar vinis, sem parar. Essa mistura toda é o meu background musical.

Gravado ao longo de dois anos, “Tough soul” – lançado pelo renomado selo local Sound of Copenhagen – foi concebido com Vinnie Who (Niels Bagge), seu parceiro de longa data, inclusive no projeto Disco Dick.

– Vinnie foi genial ao traduzir os sons que eu tinha na cabeça. Além disso, ele toca quase todos os instrumentos do disco. Formamos um bom time – garante ele.

A canção que dá nome ao álbum – um sedutor groove de quase dez minutos, de linha de baixo matadora e sintetizadores espaciais – ganhou um vídeo igualmente sombrio, sobre uma história de amor que vai das cinzas às cinzas, do pó ao pó, com a participação de crianças num clima “O senhor das moscas”. Já a cativante “This is my gift to you” virou um clipe de tons nostálgicos, em cima (virtualmente) das imagens de “Alguém muito especial”, comédia romântica do mestre John Hughes, com Eric Stoltz, Lea Thompson e Mary Stuart Masterson.

– São letras sobre relacionamentos, no final das contas. O jeito como elas viraram músicas e vídeos refletem, de alguma maneira, minhas influências e meu jeito nerd de ser – conta D’Or, que tem discos do Brasil em sua coleção, embora nunca tenha visitado o país. – Curto muito o som psicodélico dos anos 60, 70, Mutantes, Ronnie Von e coisas assim.