
Nas rimas de Aori, as aparências não enganam
Nas sombras de Brasília ou no calor das redes sociais em meio ao terremoto que abala a democracia no país, as fachadas estão caindo a toda hora, com revelações quase sempre assustadoras. É nesse cenário de realidade distorcida que Aori – um dos rappers mais respeitados do Brasil – lança seu novo single, apropriadamente intitulado “Máscaras”. Feito em parceria com a produtora Carolina Monte, do Top Five Studio, a música – disponível nos sites de streaming – tem letra incisiva, como era de se esperar, mirando nos disfarces de “selfies” e egos pobremente inflados (“Você vive um personagem, fora da sua realidade/Se preocupa com essa imagem/Falta verdade, se afaste”), batendo também no racismo nosso de cada dia ( “Quando eu passo/Dondocas seguram as bolsas”).
– A letra passa por tudo o que estamos vivendo, da saturação das selfies às máscaras que estão caindo sem parar – conta ele, por telefone. – As pessoas nem tem mais vergonha de se mostrarem racistas, assumindo isso sem problemas. É assustador.
A rima, quase toda gravada em freestyle, vem embalada por uma batida híbrida, entre o hip-hop e o onipresente trap, desenhada por Carolina, que toca vários instrumentos, e tem a participação de Felipe Pinaud (ukelele) e Dedê Silva (vocais de apoio).
– Tem muito trap vazio rolando por aí, tentei fazer algo com conteúdo. E a Carolina pegou bem o espírito, criando um som bastante próprio – diz Aori.
A música é acompanhada por um clipe, também assinado por Carolina, com grafismos que fogem aos lugares comuns associados ao hip-hop e que tem a participação de Aaliyah, três anos, filha do rapper.
– A aposta do clipe era fugir dos chavões e investir na expressividade do olhar combinado com novos grafismos – explica ele. – E a Aaliyah não teve como ficar de fora. Ele sabe quase todas as minhas músicas. Na gravação, reclamou que dei a ela um microfone desligado.
Um dos fundadores do seminal grupo Inumanos, com o DJ Babão, e fundador da famosa Batalha do Real, ao lado do MC Marechal, Aori acredita que “Máscaras”(“Seu bonde é tipo conde Drácula/Mira na jugular/Quer me julgar me sugar quer o meu lugar?”) reforça a ideia de que o hip-hop não perdeu sua veia de contestação, ainda mais em tempos cinzentos..
– Temos visto gente como Racionais, Emicida, Karol Konka, Marcão da Baixada e Rico Dalasam, entre muitos outros, reagindo, se manifestando e também atuando nas ocupações. O hip-hop sempre foi das ruas. E é onde ele está nesse momento.
(Imagem de reprodução)
Adorei a música e o clipe!!! Parabéns Aori e toda equipe envolvida nesse trabalho. O Brasil precisa de artistas assim que falam da verdade. Muito sucesso pra vcs!!!