
Prins Thomas dividido no espaço
Prins Thomas desliza pelas curvas do espaço-tempo no álbum “Principe del norte”. Maestro da chamada “cosmic disco”, aquela que flutua acima dos embalos de sábado à noite, o músico, produtor e DJ norueguês fatia seu novo trabalho em dois pedaços. Uma parte sensorial, sem batidas, das faixas “A” a “D”, e uma parte pé (deslizando) no chão, com batidas, das faixas “E” a “H” (aparentemente, o autor desviou sua criatividade dos títulos). A soma do “cosmic” com a “disco” não leva a uma odisseia inesquecível, mas tem várias passagens mágicas.
Quarto disco de Thomas, “Principe del norte” nasceu sob a influência do som ambient de grupos como o The Orb e o KLF, que marcaram os anos 1990 com sua relaxante tapeçaria eletrônica, indutora de sonhos coloridos, povoados por teletubbies, para as primeiras gerações clubbers. As faixas “A”, “A1”, “B”, “C” e “D” – guardou os nomes? – celebram e atualizam o som daqueles artistas e daquele período (“braindance”, como diz ele no release), em arpejos de sintetizadores, que se acumulam como camadas atmosféricas. Alguns momentos chegam a lembrar o célebre “Tubular bells”, de Mike Oldfield (usado na trilha de “O exorcista”, em 1973). Outros, porém, não avançam muito além do que já foi bem feito em discos como “Last train to Lhasa”, do Banco de Gaia (de 1995) ou mesmo “Adventures beyond the ultraworld”, do The Orb (de 1991).
O álbum seria completado por remixes dessas faixas assinados por outros produtores, mas Thomas – que fez um memorável set na Moo, no Rio, em 2007 – acabou mudando de ideia e fazendo ele mesmo essa parte. Assim, as faixas “E”, “F”, “G” e “H” – ai, ai – ganharam os trajes disco com que Thomas vem embalando suas produções (as melhores, ao lado do parceiro e conterrâneo Lindstrom, como no álbum…”II”, de 2009). São batidas 4/4 incrementadas por “palmas”, linhas de baixo minimalistas e synths rabiscantes, que de alguma forma ligam Giorgio Moroder e Cerrone ao Tangerine Dream e às trilhas sonoras de John Carpenter. É quando, enfim, se instala a festa no espaço e todos podem fazer a dancinha da gravidade zero.
Cotação: Gostei médio
(Foto de divulgação/Ragnhild Fors)