Lê Almeida em transe

Lê Almeida em transe

Lê Almeida está em casa no Escritório. Foi na sede da sua gravadora, a Transfusão Noise Records – simpático espaço localizado no Centro do Rio, que abriga um estúdio, um micropalco para shows e um improvisado bar – que ele gravou o eletrizante “Mantra happening”. Lançado hoje, em CD e cassete, com distribuição da Deck, é o terceiro álbum desse herói da independência, sem contar três EPs, dois compactos, um single e inúmeros projetos paralelos dentro da própria TNR, criada em 2004, no quintal de sua casa, no bairro de Vilar dos Teles, na Baixada (que visitei, em 2010, pra uma matéria no “Globo”).

Concebido entre outubro de 2015 e janeiro deste ano, “Mantra happening” é, nas palavras de Lê, “um disco meio diferente, mais chapado”. Assinado como Conjunto Lê Almeida, traz o cantor e guitarrista ao lado de João Casaes (guitarra), Bigú Medine (baixo) e Joab Regis (bateria), um power-quarteto que vem tocando junto, e cada vez melhor, há cerca de seis anos.

– É o primeiro disco que gravo 100% com os caras, ao vivo, num lugar que é nosso e onde a gente pode ficar à vontade. Nunca me senti tão realizado como banda – conta ele, que vem se firmando também como artista plástico. – Depois de termos encontrado o som do Escritório, a gente passou a experimentar muito. Eu e João, por exemplo, temos investido muito tempo em experiências com gravações, incluindo cassetes, mixagens e masterizações.

O “Acontecimento Mantra” – que tem capa desenhada por Walner Del Duca, baterista da banda mineira Top Sunsire – é o resultado dessas pesquisas feitas à base de muita distorção. Decolando do shoegaze dos seus primeiros trabalhos, o álbum mostra Lê e equipe atravessando nuvens púrpuras e voando alto, rumo a um céu de diamantes.

Justificando a hashtag “space rock”, presente no primeiro link do soundcloud que ele me enviou, as cinco faixas do álbum – três delas com mais de dez minutos de duração – têm clima de jam psicodélica, as guitarras de Lê e Casaes, respingando delay, enroscando-se nas marcações soltas de Medine e Regis, criando uma teia de tons hipnóticos, que vai, aos poucos, envolvendo e entorpecendo o ouvinte. “Eu cruzei o sol/Só pra te ver mais de perto”, canta Lê em “Enamorandius”.

– A gente fez três sessões e em cada uma tocava as faixas de modo diferente. Esse conceito de mantra está presente no som e nos cantos, que às vezes parecem cantigas de roda. É um disco sem muitos truques de gravações, só os estéreos bem trabalhados – explica Lê, antes de dar a dica. – Ouvir de fone na madruga é uma onda.

Cotação: Ótima viagem

(Foto de divulgação/Isabela de Sousa)