O som derretido do Circles Around The Sun

O som derretido do Circles Around The Sun

O troféu de Melhor Música para Lava Lamp vai para o Circles Around The Sun, com seu “Interludes for the Dead”. Liderado pelo guitarrista Neal Casal, o grupo saiu-se melhor do que a encomenda que o trouxe ao mundo – no caso, a feita por Justin Kreutzman para que criasse uma trilha para acompanhar os visuais exibidos nos intervalos da turnê “Fare thee well”, que aconteceu nos EUA no segundo semestre de 2015, marcando tanto os 50 anos como a despedida dos palcos do mítico Grateful Dead. Justin é filho do baterista Bill Kreutzman. E o Dead, oficialmente extinto desde a morte de Jerry Garcia, em 1995, é a entidade suprema do rock psicodélico, capaz de gerar aquele que talvez seja o mais apaixonado e intrigante grupo de fãs do planeta, os deadheads.

Para a tarefa, Casal convocou o tecladista Adam MacDougall – como ele, integrante da banda de Chris Robinson (vocalista dos Black Crowes) – e também o baixista Dan Horne e o baterista Mark Levy. Durante dois dias em estúdio, o grupo gravou quase cinco horas de material, em takes diretos, que foram usados, com muito sucesso, nas pausas das cinco datas da turnê – as apresentações do Grateful Dead sempre foram marcadas por intensas maratonas musicais, muitas vezes ultrapassando a barreira das três horas de duração. Daí a necessidade dos intervalos, para o pessoal poder ir ao banheiro, beber água e interagir com borboletas multicoloridas.

Só que a onda criada pelo Circles Around The Sun bateu tão bem que o material virou disco, de título mais do que apropriado, lançado pela Rhino em CD e vinil duplos (também disponível na plataforma de streaming mais próxima). Ouvir suas dez loooongas faixas é pisar no tapete mágico criado pelos quatro habilidosos músicos e voar alto ao longo dos seus envolventes grooves e suas cósmicas ambiências. Sem jamais perder-se em trips egocêntricas, Casal e companheiros inspiram-se nas famosas jams do Dead para criar uma sonoridade própria, dinâmica, marcada por precisos diálogos entre guitarras em wah-wah e sintetizadores espaciais, como na funkeada “Ginger says” (11 minutos) ou na doce “Farewell franklins” (25 minutos). Para apreciar, sem moderação, sem pressa, com um bom incenso, flores na cabeça e aquela blusa tye-dye que você ganhou no último verão do amor. Caveirinhas dançantes por conta da casa.

(Foto de divulgação)